O que é a Umbanda? Origem, princípios e como funciona um terreiro

A Umbanda é uma das mais autênticas expressões religiosas do Brasil. Surgida oficialmente no início do século XX, é um exemplo da diversidade cultural e espiritual do nosso país. Para compreender o que é a Umbanda, é importante saber que ela nasceu de um processo de encontro e fusão entre diferentes tradições religiosas, misturando elementos do catolicismo popular, do espiritismo kardecista, das religiões de matriz africana e da sabedoria indígena. Essa característica de síntese é o que torna a Umbanda tão única e próxima da realidade brasileira.

Em 1908, um jovem chamado Zélio Fernandino de Moraes, que sofria de problemas de saúde e apresentava manifestações mediúnicas, foi levado por sua família a reuniões espíritas em Niterói, no Rio de Janeiro. Nessas ocasiões, Zélio passou a incorporar espíritos de caboclos e pretos-velhos, o que causava estranheza aos kardecistas, acostumados com manifestações de “espíritos elevados” em linguagem erudita. Em uma dessas reuniões, Zélio recebeu a entidade conhecida como Caboclo das Sete Encruzilhadas, que anunciou o surgimento de uma nova religião, destinada a acolher a todos sem distinção, especialmente aqueles que eram marginalizados e não se viam representados em outras tradições. Essa data é considerada o marco fundador da Umbanda.

Desde então, a Umbanda se expandiu pelo Brasil, adaptando-se às realidades regionais, mas mantendo princípios fundamentais: a prática da caridade, a valorização da fé e o trabalho mediúnico como ferramenta de auxílio espiritual. É uma religião que não exige conversão nem renúncia a outras crenças; pelo contrário, acolhe a todos que buscam orientação, conforto e equilíbrio.

Mas como funciona, na prática, um terreiro de Umbanda? O espaço é preparado de forma simples e acolhedora. Há um altar ou congá, onde se encontram imagens de santos católicos, representações de Orixás e outros símbolos. Esse altar não é apenas decorativo, mas um ponto de força, que ajuda a concentrar e direcionar as energias durante os trabalhos. O ambiente é purificado com defumação, e o ritmo dos atabaques e dos cânticos — os chamados pontos cantados — dá o tom espiritual da gira.

As giras são os encontros religiosos da Umbanda, onde se dá a comunicação com o mundo espiritual. Elas seguem uma ordem que inclui a abertura, a chamada das entidades, os atendimentos ao público e o encerramento. Os médiuns, preparados pelo dirigente da casa, incorporam guias espirituais que vêm com diferentes formas e expressões: caboclos, pretos-velhos, crianças, marinheiros, baianos, boiadeiros, exus e pombagiras. Cada uma dessas linhas traz uma energia específica, que se manifesta em conselhos, passes, bênçãos, rezas ou até no simples ato de ouvir com atenção aquele que procura ajuda.

O terreiro é um espaço democrático e acolhedor. Pessoas de diferentes origens, classes sociais e religiões podem participar, seja para assistir, seja para receber orientação ou para integrar a corrente mediúnica. Não há cobrança financeira obrigatória, já que a caridade é um valor central, e a prática religiosa busca sempre aliviar sofrimentos e promover bem-estar.

Assim, a Umbanda pode ser compreendida como uma religião de inclusão, nascida do encontro de culturas, que valoriza a simplicidade e o amor ao próximo. Para quem entra em contato com ela pela primeira vez, o impacto é forte: a música, a energia, a emoção das incorporações e a espiritualidade viva criam uma atmosfera única. Compreender a Umbanda é entender um pouco mais sobre o próprio Brasil, sua diversidade cultural e espiritual, e perceber que a fé pode se expressar de muitas maneiras, sempre com o mesmo objetivo de aproximar o ser humano do sagrado.